DISCURSO PROFERIDO, EM
03.09.2007, por Leonaldson Castro, ESTANDO NA PLATÉIA O PREFEITO FILUCA
MENDES, EM OCASIÃO DO 151º. ANIVERSÁRIO DE PINHEIRO E DA FORMATURA DA PRIMEIRA
TURMA DE LICENCIATURA SUPERIOR DE PROFESSORES DO CONVÊNIO PREFEITURA/UFMA
(Saudaçoes): Representando o Sr
Governador de Estado, Jackson Lago, e
enaltecendo sua condição de arauto da esperança de um novo tempo - Evocações
aos presentes
# (Discurso): Vou-lhes contar uma
história: a jornada de um menino em busca de saber exila-se, e muito tempo
depois, já homem feito, retorna para acabar de nascer perante à sua Terra. Não
encontrei outra senão esta história para celebrar e aclamar este momento único
em vossas vidas que, tenho certeza, qualifica-vos, formandos, ao profundo
desenvolvimento servil à Humanidade, a
mais nobre das missões humanas – EDUCAR PARA LIBERTAR!
Há 30 anos, rumava eu, menino de 14
aniversários, em direção a um longo exílio. Impiedoso e incondicional exílio,
mas necessário. Impiedoso porque ceifava a minha inacabada e telúrica meninice
de Pinheiro, minha Terra, a de meus pais e de meus avós, tanto também a de meu
avô português, José Santos. Não se resumiu em simples transferência geográfica:
nos tempos por vir embutia-se a inexorável mutação daquele ser inarredavelmente
inocente e apegado às coisas da sua terra, em um homem premeditadamente
municiado para a luta da vida... para continuar existindo ante a morte que
morrer um Pinheirense não quer antes que justifique a vida.
Decerto, adviram
sofreguidões, negações, enganos e quase desistências... enfim a dor d’alma, mas
a final o homem existindo por suas
próprias escolhas e convicções, eu denodamente vaticinava alcançá-las. E assim
o menino deu lugar ao homem precoce e pretenso, sem esperar que o coração
amolecesse e não chorar os campos e a Faveira, a casa, a farmácia e o Colégio
Pinheirense, os amigos e os professores que me exortaram a saudade, mas
sobretudo apontaram essa difícil viagem. Impossível não nominá-los: Dona Vivi e
Dona Maricota, me botaram letras à fala e escritas ao papel; Dona Maria Costa e
Dona Dilu me receberam maternalmente no Colégio Pinheirense e cuidaram de
pingar limao nos meus olhos para o ácido dom de ver´ que me espreitava; Dona
Lurdinha Dias, Dona Elvira, Dona Maria de Jesus e Dona Maria Fausta me
ensinaram meu primeiro português e minhas primeiras contas, a receber e também
a pagar; Dona Maria do Carmo, Dona Regina, Dona Valdete, Dona Cici, esta o
horizonte deu-mo; Seu Afonso Guimarães, Frei José, Dr. Raimundo, Professor
Antônio Carlos Guterres compensaram a paternidade ausente; e o Pe. Rizzo,
materialização do entreguismo incondicional aos de pouca posse, incutiu-me a
verdade suprema d´um mundo de todos. Não foram meus orientadores de Mestrado ou
PhD, nem mesmo os das Universidades mundo-a-fora, os mais importantes
professores para mim, mas vocês todos de Pinheiro, alguns que, infelizmente,
minha lembrança já desbotada injustamente nao me permitiu citar, é a quem devo
o que sou! Aonde estiverem, saibam da minha mais profunda gratitude e do
orgulho por ter sido um de seus alunos. Permitam-me , ainda uma vez mais,
pedir-lhes serem eles o exemplo para esta Turma de Formandos. Se vós,
Formandos, os seguirdes o exemplo de entreguismo, altivez e superação no divino
ofício de ensinar, estais todos fadados ao sucesso e vereis justificadas vossas
existências!
De volta aos périblos do exílio.
Enquanto quase todos experimentam uma única vez apenas a ruptura do elo
umbilical, em alguns esse cordão vital é decepado outras segundas vezes. Ocorreram-me
múltiplas ruturas. Estes outros cortes
necessários e defenestrados pela lâmina fria da sobrevivência, levaram-me
a ser médico, formado pela mesma Universidade que vos graduais agora. No exílio,
segui em frente e estou no Rio de Janeiro. Foram 9 anos de pós-graduação sensu
latus: Cirurgia Geral, Coloproctologia e Cirurgia Oncológica. Em seqüência
vieram o Mestrado e o Doutorado, pela UFRJ. O sofrimento desproporcional e
imerecido dos portadores de câncer atingia-me repugnantemente. Eram meu mister
e desafio. Precisava saber mais, mas humildemente. Fui
para New York, no Memorial Sloan Katering Cancer Center. Sirvo à maior instituição latino-americana
dedicada à pesquisa, ensino e tratamento de câncer, o Instituto Nacional de
Câncer (INCA). Publicamos artigos, livros, capítulos; proferimos conferências e
aulas mundo afora ... todos devotados ao combate ao câncer. Apresentamos ao
mundo científico, no Colégio Americano de Cirurgiões (ACS), técnica cirúrgica
inovadora. Houve o reconhecimento das Medicinas americana e européia à cirurgia
brasileira.
Valeu a pena as dores do exílio. E
eis que invoco este humilde exemplo para me solidarizar com cada um de vós no
reconhecimento da superação hercúlea requerida para estais aonde estais. Qão
dignificante o ofício o de vós. Não haverá Justiça e Democracia sem educação.
Educar para libertar: eis a maior de todas as construções políticas. De fato,
se os políticos se ativessem às observância e realização deste princípio e não
precisaríamos reprová-los, negá-los ou puni-los. Antes, seríamos apacentados ao
invés de traídos e extorquidos pelos dissimulados em bem-feitores. É mais que
chegada a hora do Povo Brasileiro unirmos-nos para o impedimento das práticas
criminosas que oprimem e desesperam a cada um de nós, e em mais abissal
desproporção, os mais humildes e despossuídos.
Vós, vitoriosos Formandos, por
sabeis hoje mais que ontem, estais mais libertos que fostes. E ao dividirem
seus saberes nas classes de aula, que é os seus misteres, acredito, estais
operando o desígnio de Deus: Libertar, e estais igualmente traduzindo-vos em
instrumento político, aquele que Bobbio chama de concepção ética da política e
que quer dizer que a política antes de ser ação, deve ser educação e, tanto
esta quanto aquela, ambas, devem ser dirigidas por princípios éticos e
originados de um esforço consciente e desprendido. O oposto é a política
pragmática baseada em interesses pessoais ou de grupo, em critérios de
conveniência e de oportunidades, neste caso, obter poder e riqueza torna-se a
medida do êxito.
Vades aonde precisem de vós, às
salas de aula, e vereis cumprido os vossos deveres e vocações: vossas parcelas
de contribuição por um mundo mais justo, por um mundo melhor e humano! E assim,
valeu ter vivido! Deixai rastros!
Sei que não sou o mais capaz de ser vosso
paraninfo, mas imerecida convocação honrou-me profundamente e encoraja-me a
voltar à nossa Terra para acabar de nascer!
Que Deus nos guie!
Dr
Leonaldson dos Santos Castro, maranhense de Pinheiro, é oncologista do
INCA-Instituto Nacional do Carcer, presidente da Sociedade Brasileira de
Oncologia, mestre e doutor pela UFRJ, titulação-Phd com teses
defendidas em :University Harvard (EUA), University California
(EUA),University Oxford (Inglaterra), University Cambridge (Inglaterra),
University Toronto (Canadá), University Zurich ( Suiça), University
Munich (Alemanha) e Kyoto University (Japão). Autor de vários livros e
um dos três médicos brasileiros titulares do Colégio Americano
de Cirurgiões.
Do Jornal Pessoal do Eri Castro.
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